dezembro 12, 2009

OS PAÍSES DE DIFÍCIL INDUSTRIALIZAÇÃO: O CASO PORTUGUÊS


Principais factores do atraso da agricultura em Portugal
No século XIX, a agricultura portuguesa registava um atraso significativo relativa mente à maior parte dos países da Europa ocidental. Para este atraso contribuíram os seguintes factores:
• Instabilidade política e económica causada pelas invasões Francesas e pela Revolução Liberal;
• O regime de propriedade não favorecia o desenvolvimento da agricultura — no Sul dominavam os proprietários absentistas e no Norte a propriedade era parcelada e dispersa;
• Atraso das técnicas agrícolas — ausência de mecanização, de sistemas de irrigação e de regulação dos cursos dos rios, adubação deficiente, falta de orientações e de apoios oficiais na selecção de sementes e de culturas;
• Existência de muitos terrenos incultos;
• Mercado interno pouco desenvolvido;
• População activa escassa e com falta de instrução:
• Distribuição desigual da população, mais concentrada no Norte e no litoral;
• Dificuldades nas deslocações e transportes.
Apesar destes factores, na segunda metade do século XIX a agricultura portuguesa conheceu algum desenvolvimento nos seguintes sectores:
• Pecuária — crescimento das pastagens e produção de forragens;
• Viticultura — adopção de castas resistentes a doenças e restauração das vinhas.
As tentativas de modernização
Em 1851, um novo movimento revolucionário pacificou politicamente o país e propôs-se modernizar a economia; este movimento iniciou um novo período da vida portuguesa do século XIX e ficou conhecido por Regeneração.
Em 1852, foi criado o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, chefiado por António Maria Fontes Pereira de Melo, que deu grande impulso aos transportes e às comunicações:

• Melhorou a rede viária e ferroviária, construindo centenas de quilómetros de estradas, dezenas de pontes e o primeiro troço do caminho-de-ferro que ligava Lisboa ao Carregado;
• Introduziu o telégrafo eléctrico;
Modernizou os correios com a introdução dos selos postais.
A construção destas obras públicas trouxe problemas financeiros ao país, que, não tendo capacidade de investimento, teve de recorrer ao empréstimo estrangeiro. Apesar disso, as medidas tomadas possibilitaram o emprego a um maior número de pessoas e a circulação de pessoas e mercadorias, quebrando-se o isolamento de muitas regiões do interior. Portugal passou a estar em contacto mais directo com a Europa e o Mundo.
A tímida industrialização portuguesa: a dependência face ao estrangeiro
À semelhança do que acontecia nos transportes e comunicações, também o sector industrial registava, em meados do século XIX, um atraso significativo, para o qual contribuíram os seguintes factores:
• Mercado interno pouco estimulante, devido ao baixo poder de consumo da população;
• Necessidade de importação de matérias-primas e maquinaria;
• Falta de interesse da burguesia em relação ao investimento na indústria;
• Falta de técnicos especializados, devido ao elevado nível de analfabetismo existente no nosso país.

Só a partir de 1875 se verificaram progressos significativos, com a intensificação da mecanização e com o crescimento do número de registo de patentes, o que levou ao aumento da produtividade; apesar do domínio dos têxteis, novos sectores se afirmaram até finais do século XIX: vidro, tabaco. Cerâmica, moagem, indústria química de tintas e vernizes, fósforos, cimento, conservas e sabão. Estes melhoramentos só foram possíveis graças ao crédito externo, facto que fez aumentar a divida pública e acentuou a dependência económica de Portugal face ao estrangeiro.
Apesar deste surto de industrialização, a produção artesanal continuava a prevalecer em relação à industrial e a maioria da população portuguesa continuava dependente da agricultura.

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