dezembro 12, 2009

OS PAÍSES DE DIFÍCIL INDUSTRIALIZAÇÃO: O CASO PORTUGUÊS


Principais factores do atraso da agricultura em Portugal
No século XIX, a agricultura portuguesa registava um atraso significativo relativa mente à maior parte dos países da Europa ocidental. Para este atraso contribuíram os seguintes factores:
• Instabilidade política e económica causada pelas invasões Francesas e pela Revolução Liberal;
• O regime de propriedade não favorecia o desenvolvimento da agricultura — no Sul dominavam os proprietários absentistas e no Norte a propriedade era parcelada e dispersa;
• Atraso das técnicas agrícolas — ausência de mecanização, de sistemas de irrigação e de regulação dos cursos dos rios, adubação deficiente, falta de orientações e de apoios oficiais na selecção de sementes e de culturas;
• Existência de muitos terrenos incultos;
• Mercado interno pouco desenvolvido;
• População activa escassa e com falta de instrução:
• Distribuição desigual da população, mais concentrada no Norte e no litoral;
• Dificuldades nas deslocações e transportes.
Apesar destes factores, na segunda metade do século XIX a agricultura portuguesa conheceu algum desenvolvimento nos seguintes sectores:
• Pecuária — crescimento das pastagens e produção de forragens;
• Viticultura — adopção de castas resistentes a doenças e restauração das vinhas.
As tentativas de modernização
Em 1851, um novo movimento revolucionário pacificou politicamente o país e propôs-se modernizar a economia; este movimento iniciou um novo período da vida portuguesa do século XIX e ficou conhecido por Regeneração.
Em 1852, foi criado o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, chefiado por António Maria Fontes Pereira de Melo, que deu grande impulso aos transportes e às comunicações:

• Melhorou a rede viária e ferroviária, construindo centenas de quilómetros de estradas, dezenas de pontes e o primeiro troço do caminho-de-ferro que ligava Lisboa ao Carregado;
• Introduziu o telégrafo eléctrico;
Modernizou os correios com a introdução dos selos postais.
A construção destas obras públicas trouxe problemas financeiros ao país, que, não tendo capacidade de investimento, teve de recorrer ao empréstimo estrangeiro. Apesar disso, as medidas tomadas possibilitaram o emprego a um maior número de pessoas e a circulação de pessoas e mercadorias, quebrando-se o isolamento de muitas regiões do interior. Portugal passou a estar em contacto mais directo com a Europa e o Mundo.
A tímida industrialização portuguesa: a dependência face ao estrangeiro
À semelhança do que acontecia nos transportes e comunicações, também o sector industrial registava, em meados do século XIX, um atraso significativo, para o qual contribuíram os seguintes factores:
• Mercado interno pouco estimulante, devido ao baixo poder de consumo da população;
• Necessidade de importação de matérias-primas e maquinaria;
• Falta de interesse da burguesia em relação ao investimento na indústria;
• Falta de técnicos especializados, devido ao elevado nível de analfabetismo existente no nosso país.

Só a partir de 1875 se verificaram progressos significativos, com a intensificação da mecanização e com o crescimento do número de registo de patentes, o que levou ao aumento da produtividade; apesar do domínio dos têxteis, novos sectores se afirmaram até finais do século XIX: vidro, tabaco. Cerâmica, moagem, indústria química de tintas e vernizes, fósforos, cimento, conservas e sabão. Estes melhoramentos só foram possíveis graças ao crédito externo, facto que fez aumentar a divida pública e acentuou a dependência económica de Portugal face ao estrangeiro.
Apesar deste surto de industrialização, a produção artesanal continuava a prevalecer em relação à industrial e a maioria da população portuguesa continuava dependente da agricultura.

ALTERAÇÕES NAS ESTRUTURAS SOCIAIS

A ruína dos pequenos produtores; a emigração
As dificuldades de crescimento da economia portuguesa, com um deficiente desenvolvimento agrícola e industrial e uma forte dependência em relação ao estrangeiro, acentuaram a tendência para a ruína dos pequenos produtores.
Como resultado da situação atrás descrita, a população recorreu à emigração, fenómeno que se verificou noutros países da Europa. No nosso país, este fenómeno demográfico deu-se devido ao crescimento populacional, ao êxodo rural e ao excesso de mão-de-obra nos centros urbanos, onde a lenta industrialização não satisfazia as necessidades de emprego.
O destino tradicional dos emigrantes portugueses no século XIX foi o Brasil. As remessas de dinheiro enviadas pelos emigrantes portugueses permitiram compensar, em parte, o enorme défice da nossa balança comercial.

Crescimento e limitações da sociedade burguesa; a formação do operariado
Em 1864, a população urbana portuguesa constituía menos de um décimo da população total. A população burguesa era pouco numerosa e era constituída pela alta burguesia que estava ligada à banca e à indústria e pela pequena burguesia, composta sobretudo pelos comercian-tes e funcionalismo. A classe média era, portanto, pouco numerosa.
Tal como a burguesia, também o operariado português era pouco numeroso devido ao atraso industrial, concentrando-se sobretudo nas cidades de Lisboa e Porto. A maior parte dos operá-rios era analfabeta e os sindicatos não possuíam capacidade reivindicativa.
Algumas Noções:

Regeneração - Período da História que se iniciou em 1851 e se prolongou até à década de 1870, marcado pela acção do ministro Fontes Pereira de Melo.
Dependência económica - Sistema da economia de um país, caracterizado pelo défice crónico da sua balança de pagamentos.


A PARTILHA DO MUNDO


   No final do século XIX, a Europa assume uma hegemonia incontestada em todo o mundo. As nações europeias dominam quase todas as regiões do planeta, em grande parte devido a uma industrialização que lideraram e expandiram durante todo este século. O capitalismo industrial e financeiro impôs-se por toda a Europa, estendendo-se a outras regiões, reforçando o carácter de uma economia efectivamente planetária. Para as potências europeias como a Inglaterra e a Alemanha a posse de colónias surge como uma meta irresistível. Na verdade, possuir colónias representa não só a possibilidade de obtenção de matéria-prima barata, como também a garantia de mercados de exportação. Controlar o comércio colonial é meio caminho para um domínio seguro da economia mundial.
   Neste âmbito, a Inglaterra assume grande destaque. Não só possui os chamados “Domínios Britânicos”, países autónomos mas dependentes da Coroa britânica, como administra inteiramente muitas regiões do Globo. Além disso, estabelece relações com países politicamente independentes, mas que lhe são economicamente dependentes.
   Com o arranque do século XX, a Alemanha mostrava-se particularmente interessada em substituir-se ao poder colonial britânico. Ásia, África e América Latina são regiões que as potências europeias disputam agressivamente. A este movimento de expansão que visa a dominação política e económica de umas nações por outras deu-se o nome de imperialismo colonial. França, Rússia, Japão e Estados Unidos seguem atentamente estas ambições expansionistas.

A PARTILHA DE ÁFRICA


O século XIX deu a conhecer ao mundo a imensidão do continente africano como uma região de imensas riquezas inexploradas. Destacam-se as descobertas de missionários e exploradores como David Livingstone, missionário protestante que, de 1840 a 1873, explorou a região central de África do Congo e Zambeze, elaborando a cartografia detalhada de um vasto território africano, até então por mapear. Foi o primeiro europeu a dar conta da existência das célebres Victoria Falls, do lago Niassa, um entreposto africano de tráfico esclavagista, e do lago Tanganica. Outros exploradores completaram o trabalho de Livingstone, como o americano Henry Stanley e o francês Pierre Brazza.
Portugal participou activamente deste movimento de exploração africana, tendo ficado célebres os nomes de Silva Porto, Capelo lvens e Serpa Pinto, responsáveis pelo descobrimento da porção de território virgem que separava Angola de Moçambique.

A CONFERÊNCIA DE BERLIM

Já vimos que o interesse por África era muito mais do que meramente científico. De tal modo era cobiçada esta região do Globo que as potências mundiais se reuniram em 1884-1885 para repartir o continente africano entre si, na Conferência de Berlim. Por este acordo, só teria direito a ocupar uma região aquela nação que tivesse capacidade económica e militar para o fazer e não a que historicamente houvesse chegado lá em primeiro lugar. Países como Portugal, que reclamavam o direito histórico de ter chegado primeiro a estas regiões, saíram da conferência bastante prejudicados.
As viagens terrestres dos exploradores portugueses demonstram o interesse do rei D. Carlos em concluir um velho projecto de Portugal: estabelecer um corredor horizontal entre Angola e Moçambique, a que se daria o nome de mapa cor-de-rosa.
No entanto, este objectivo colidia com os interesses ingleses de estabelecer um corredor vertical entre o Egipto e a África do Sul. Cecil Rhodes, primeiro-ministro britânico, fundador efectivo de um Estado com o seu nome, a Rodésia, actual Zimbabwe, defendia que a Coroa britânica deveria possuir um vasto domínio contínuo “do Cairo ao Cabo”.
Os britânicos enviaram, a 11 de Janeiro de 1890, um ultimato, exigindo que Portugal retirasse as suas tropas do território que separava Angola de Moçambique (actuais Zâmbia e Zimbabwe). Humilhado, Portugal teve de ceder às exigências da maior potência mundial de então. Este episódio faria com que em Portugal nascesse então uma forte oposição a tudo quanto fosse britânico, criticando-se a Coroa portuguesa por ter acedido às pretensões estrangeiras com excessiva obediência. O Ultimato feriu profundamente as relações entre os dois reinos.

dezembro 11, 2009

A PRIMEIRA GRANDE GUERRA

Em 1914, os europeus dominam quase todas as regiões do Globo. As grandes potências europeias lutam para obter a maior extensão de territórios coloniais. De facto, controlar o comércio colonial é meio caminho para um domínio completo da economia mundial, A Alemanha estava particularmente interessada em substituir-se ao poder colonial britânico e encarava a possibilidade de provocar uma guerra como uma maneira de atingir os seus objectivos.
Um dos maiores focos de agitação social é o intenso nacionalismo que se vive na época, gerador de ódios entre os povos da Europa. A Alemanha vivia então um período de grande orgulho nacional: o pangermanismo - que afirmava a supremacia da raça alemã sobre todas as outras. Otto Von Bismarck é o grande chanceler (Kanzler) alemão: unificaria a Alemanha, que antes de si não passava de uma soma de vários principados autónomos; derrotou a França na guerra franco-prussiana, conquistando-lhe vastos territórios e pretende agora estender o seu império. Porém, as ambições alemãs colidiam com as pretensões inglesas, francesas e russas. Bismarck sabe que só a guerra lhe dará o que pretende. Falta-lhe apenas um pretexto.
Tensões e alianças
Em 1882, Bismarck estabelece uma aliança militar com a Itália e com o lmpério Aus-tro-Húngaro, a Tríplice Aliança. A Itália abandonaria a aliança em 1915 e seria subs-tituída pela Turquia e Bulgária, passando a chamar-se Quádrupla Aliança - Alema-nha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária. Este conjunto de nações ficaria conhecido também pelo nome de potências Centrais.
A França ficava isolada. Para reequilibrar as forças, deu-se a constituição de uma nova aliança militar com a Rússia e a Grã-Bretanha: a triple Entente, em 1907, conhecida doravante pela designação equívoca de Forças Aliadas ou Aliados.
Em 1914 existiam regiões de elevada importância estratégica e militar que eram agressivamente disputadas pela Alemanha e outras nações:
• Alsácia e Lorena (disputadas entre Alemanha e França) — um rico território perdi-do pela França na sequência da guerra franco-prussiana. Os franceses exigiam que a Alemanha devolvesse a Alsácia e a Lorena, territórios que os alemães ocuparam em 1870.
• Marrocos (disputado entre Alemanha e França) — dominando Marrocos, a Alema-nha controlaria todo o tráfego entre o Mediterrâneo e o Oceano Atlântico.
• Península Balcânica (disputada entre Alemanha e Rússia) — dominando a Península Balcânica, a Alemanha impediria o acesso da Rússia ao Mediterrâneo.
O mau ambiente diplomático entre as nações agrava-se com uma intensa corrida às armas por toda a Europa.
O incidente detonador de Sarajevo
No dia 28 de Junho de 1914, o herdeiro do Império Austro-Húngaro sofre um atenta-do durante uma visita a Sarajevo, na Bósnia. Francisco Fernando e a sua esposa são assassinados por um estudante nacionalista sérvio, Gavrilo Princip. Imediata-mente, o Governo austríaco acusa o Governo sérvio de envolvimento no assassínio e declara-lhe guerra. Aliada de sempre da Alemanha, a Áustria dava a Bismarck um motivo de peso para precipitar um conflito militar. Todo este processo desenrola-se então com uma velocidade reveladora do interesse alemão em não evitar a guerra. A situação na Sérvia era atentamente seguida pela Rússia.
De facto, qualquer presença de tropas alemãs na Sérvia demonstraria à Rússia que a invasão da Península Balcânica estaria iminente, fechando assim o seu acesso ao mar Mediterrâneo.
Ao ver que a Alemanha se preparava para avançar sobre a Grécia, a Rússia mobili-za as suas tropas e posiciona-as junto da fronteira com a Áustria e a Alemanha. Imediatamente, a Alemanha exige à Rússia que retire as tropas. A Rússia devolve o pedido. A 1 de Agosto de 1914, a Alemanha declara guerra à Rússia. Em simultâ-neo, a Alemanha exige à França que se mantenha neutral. A França, declarando-se ofendida, afirma recusar receber ordens dos alemães. A 3 de Agosto, a Alemanha declara guerra à França. No dia seguinte, a Alemanha invade a Bélgica sem declaração de guerra. Nesse mesmo dia 4 de Agosto de 1914, a Grã-Bretanha entra no conflito ao lado da França, da Rússia e da Sérvia. Tinha começado a Primeira Grande Guerra.

A PRIMEIRA GRANDE GUERRA - DESENROLAR DAS OPERAÇÕES


O plano Schlieffen
Conhecemos hoje que a Alemanha dispunha de um plano de guerra já datado de 1905, o plano do conde Schlieffen, que previa uma rápida ofensiva contra os franceses. O plano previa também que a Rússia demoraria algum tempo a preparar-se para a guerra, pelo que a investida se faria primeiro contra a França e depois contra a Rússia, sem que houvesse necessidade de dividir as tropas em duas frentes.
A estratégia alemã para a frente ocidental consistia, assim, num ataque poderoso e rápido sobre as tropas francesas, através da Bélgica. De facto, conquistada a Bélgica, a Alemanha entrou em território francês, em direcção a Paris. Após uma primeira progressão veloz das suas tropas, as forças alemãs foram sujeitas a uma inesperada e enérgica resistência por parte de franceses e britânicos, que haviam mobilizado todos os recursos possíveis para conter o avanço estrangeiro.
Entretanto contra todas as expectativas alemãs, no dia 15 de Agosto os russos invadiram as fronteiras alemãs. Esta verdadeira guerra de movimentos que ocupa o ano de 1914 envolvia agora quase todo o continente europeu, com especial destaque para as três frentes de guerra: oriental, ocidental e balcânica. Mas, cedo, o equilíbrio de forças iria estagnar o conflito dando lugar a uma segunda fase: a guerra de trincheiras.
A guerra de trincheiras
Equivalentes em matéria de forças militares, foi impossível às tropas alemãs e francesas imporem um qualquer domínio de uma sobre a outra. Entre os anos de 1915 e 1918, alemães e franceses edificaram uma poderosa rede de trincheiras com perto de 800 km, ao longo das suas fronteiras subindo da Suíça até ao mar do Norte. As trincheiras eram valas com cerca de 2 metros de profundidade, escavadas ao longo das frentes de batalha para proteger as tropas da artilharia e das rajadas de metralhadoras.
As trincheiras inimigas distavam umas das outras por vezes apenas algumas centenas de metros. Nestas circunstâncias era mesmo possível às tropas ouvirem-se mas às outras.
Entre as trincheiras ficava a Terra de Ninguém. Atravessá-la significava, muito habitualmente, a morte, porque havia um aglomerado de arame farpado, minas e vigas cravadas no solo para atravessar e ficava-se perigosamente à mercê das armas inimigas.
A um grito ou som combinado, as tropas saltavam da trincheira e corriam em direcção à trincheira inimiga, procurando escapar do fogo inimigo; se a isto somarmos a chuva de artilharia que precedia o avanço, podemos imaginar que se tratava de uma forma de combate tão ineficaz como perigosamente fatal.
Novas formas de guerra
A Primeira Grande Guerra produziu novas formas de guerra: a guerra aérea e a guerra química. A guerra aérea começara por ser apenas uma forma de orientar a artilharia e melhorar a sua precisão de tiro, mas os biplanos e triplanos da Primeira Grande Guerra acabaram por desempenhar um papel revolucionário no apoio às tropas, dando origem a batalhas aéreas e pilotos que se tornaram ameaçadoras celebridades, como o alemão Manfred von Richtofen, o Barão Vermelho (Der Rote Kampfflieger).
A guerra química constituiu uma das mais medonhas formas de combate alguma vez inventadas pelo Homem e teve o seu começo na Primeira Grande Guerra. Inicialmente, tratava-se apenas de utilizar produtos químicos como o fósforo para provocar grandes quantidades de fumo e assim camuflar as tropas na sua corrida às trincheiras inimigas. Evoluiu-se depois para uma utilização de gases tóxicos, muitos deles letais.
Durante os anos de 1915 a 1917, a frente ocidental paralisou numa permanente e esgotante guerra de trincheiras que só seria interrompida no ano marcante de 1917. Entretanto na frente oriental e balcânica, russos e alemães iam-se revezando nos sucessos militares, sem que se conseguisse definir um claro dominador.
O ano de 1917
Em 1917 a Rússia envolve-se numa guerra civil que opõe monárquicos, defensores de Nicolau II, o último czar da Rússia, a bolcheviques liderados por Lenine. Este conflito interno entre o exército branco (monárquico) e o exército vermelho (bolchevique) obrigará a Rússia a pedir o abandono da guerra.
Para sair da guerra, a Rússia assina o Tratado de Brest-Litovsk. Lenine chamou-lhe “uma paz vergonhosa mas inevitável”. Não é para menos, a Rússia teve de ceder à Alemanha vastíssimos territórios que incluíram a Finlândia, Polónia, Estónia, Lituânia, Ucrânia, entre outros. A Rússia cedeu também vastos territórios à Turquia.

ENTRADA DOS ESTADOS UNIDOS NA GUERRA

Com o abandono da Rússia, a Quádrupla Aliança adquire um súbito ascendente sobre a Triple Entente. É então que os Estados Unidos da América decidem entrar na guerra. O presidente Woodrow Wilson, que tinha sido eleito em 1916 com o slogan “He kept us out of war?” (Ele manteve-nos fora da guerra), acabaria por perceber que a intervenção americana na Europa era fundamental.
Num discurso ao Congresso americano, único órgão que pode emitir uma declaração de guerra, o presidente dos Estados Unidos da América enunciou as três principais razões para intervir directamente na guerra com a Alemanha:
• Navios americanos, como o Lusitania ou o Sussex, que faziam o transporte de mercadorias para apoiar os Aliados, haviam sido afundados por submarinos alemães. Vidas americanas haviam já sido colhidas pelos alemães.
• Todo o tráfego com os Aliados era resultado de contratos comerciais. As mercadorias haviam, aliás, sido enviadas a crédito. Ao procurar destruir as rotas comerciais atlânticas, a Alemanha afirmara-se contra o livre comércio, contrário aos legítimos interesses económicos americanos.
• Os Estados Unidos da América afirmavam-se como defensores dos regimes democráticos, representados no conflito peias forças aliadas, então em graves dificuldades.
Quando as forças americanas, lideradas pelo general Pershing, entraram na guerra, a França, palco principal do conflito, estava à beira do colapso. A entrada dos Estados Unidos da América permitiu aos Aliados lançar uma contra-ofensiva massiva contra os alemães que não conseguiram resistir à arma aperfeiçoada pelos ameri-canos: o carro blindado (tank). Capaz de proteger tropas em progressão e superar todo o tipo de obstáculo como estruturas de arame farpado e trincheiras, o tank tornou a guerra de trincheiras obsoleta e iniciou uma nova fase da guerra a que alguns historiadores dão o nome de guerra de movimentos.
De Março a Julho de 1918, as forças aliadas, apoiadas pelos americanos, chegam mesmo a entrar em território alemão, comandadas pelo general Foch. Em Outubro de 1918, os alemães, abandonados entretanto por turcos e austro-húngaros, pedem o fim das hostilidades. O Armistício assinava-se na cidade francesa de Rethondes a 11 de Novembro de 1918. A guerra terminara.

Portugal na Primeira Guerra Mundial

A eclosão da Primeira Grande Guerra veio dividir ainda mais a Opinião pública em Portugal. Havia os defensores da nossa participação na guerra e os que se lhe opunham. Todos quantos eram favoráveis à intervenção, liderados por Afonso Costa, defendiam que esta seria a única forma de conservar as colónias de Angola e Moçambique que estavam a ser alvo da cobiça alemã. Além disso, Portugal acabara de destronar a monarquia, em 5 de Outubro de 1910, e esta seria uma forma de promover o reconhecimento oficial da nova república. Não obstante o episódio do Ultimato inglês, no entender dos republicanos, a tradicional aliança com a Inglaterra colocava-nos ao lado das forças aliadas.
Em Fevereiro de 1916, Portugal entra na guerra ao lado da Triple Entente. Quando a Inglaterra pediu ao Governo português que apreendesse os navios alemães que se encontravam ancorados em portos portugueses, na metrópole, nas ilhas ou nas colónias, Afonso Costa atendeu ao pedido e em apenas dois meses confiscou 68 navios.
A Alemanha declarou então guerra a Portugal (9 de Março de 1916). O chefe do Governo português ordenou a Norton de Matos que preparasse um primeiro contingente militar português. Rapidamente, o recém-formado CEP — Corpo Expedicionário Português foi mandado para a frente de batalha na região da Flandres, onde, em La Lys, sofreu uma pesada derrota em que morreram dois mil portugueses, tragédia que comoveu e chocou a nação.
A participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, que envolveu cerca de 36 mil homens, entre os que lutaram em França e os que foram defender as colónias ultramarinas, provocou uma degradação da situação económica da República. O elevado número de vítimas, escassez de produtos coloniais, o desemprego, a subida da inflação e a desvalorização da moeda conduziram o país a um estado de agitação social muito intenso. Greves, desacatos e pilhagens a armazéns de alimentos tornaram-se notícia quase diária nos jornais. Esta dura factura que Portugal teve de pagar acabou, no entanto, por permitir a Portugal conservar as suas colónias na Conferência de Paz de Paris, com o estatuto de país vencedor e tomar assento na Sociedade das Nações, uma importante organização diplomática que iria nascer dos acordos de paz do final da guerra.

O TRATADO DE VERSALHES


Em 1919 e 1920, os países vitoriosos reuniram-se com o objectivo de preparar um documento em que se estabeleciam as contrapartidas a exigir da Alemanha por ter desencadeado um tão grave e dispendioso conflito internacional. Este acordo, conhecido como Tratado de Versalhes, foi muito difícil de obter em virtude de existirem diferentes sensibilidades quanto à atitude a adoptar sobre os países vencidos.

Países como os Estados Unidos da América e Grã-Bretanha manifestaram posições mais tolerantes que não obtiveram sucesso perante uma posição muito mais intransigente da França, que havia sofrido a humilhação de uma invasão estrangeira, um saldo humano de centenas de milhar de franceses mortos, bem como uma destruição material impressionante.

A perspectiva francesa acabaria por vencer e, entre muitas cláusulas de grande severidade e mesmo algumas que se revelariam impraticáveis, o tratado decretou:

• O desmembramento do Império Austro-Húngaro e do Império Otomano.

• A independência da Polónia, Checoslováquia, Hungria, Jugoslávia, Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia.

• A devolução da Alsácia e da Lorena à França.

• A confiscação de todas as colónias até então pertencentes à Alemanha.

• O pagamento pela Alemanha de 132 milhões de marcos-ouro, anualmente actualizáveis, e entregas regulares de carvão, minérios e produtos agrícolas aos países vencedores.

• A desmilitarização de todo o território alemão: a Alemanha não pode possuir nem aviação nem marinha militar e o seu exército fica proibido de ultrapassar um efectivo máximo de 100 mil homens.

O mapa político europeu de 1919 ficava, após o Tratado de Versalhes, muito diferente do da Europa de 1914.


ALGUMAS NOÇÕES

- Imperialismo colonial — Expressão utilizada para designar o processo de dominação militar, política ou económica de um país sobre outro,
- Mapa cor-de-rosa — Representava o projecto português para a sua presença no continente africano: unir Angola a Moçambique, passar do Atlântico ao Índico, percorrendo sempre território dominado por Portugal.
- Ultimato — Palavra que significa “última ordem”. Representa o episódio em que, no ano de 1890, a Inglaterra exigiu a Portugal que retirasse as suas tropas, sob peno de quebrar-se a antiga a aliança diplomática existente entre os dois reinos.
- Pangermanismo — “Pan” significa tudo; “germanismo” refere-se à Germânia, antigo nome dado ao território alemão. A doutrina pangermanista afirmava a superioridade da tradição cultural e da raça alemãs sobre todas as outras.
- Alsácia e a Lorena — Elsass-Lothringen ou, em francês, Alsace-Lorraine são regiões de grande valor económico, situadas na fronteira entre a França e a Alemanha. Com a guerra franco-prussiana 1870-1871, no seguimento da derrota francesa, foram integradas em território alemão. Seriam devolvidas à França, nos termos do Tratado de Versalhes em 1919.
- Península Balcânica — Região do Sudeste europeu que inclui países como a Grécia, Albânia, Bulgária e parte ocidental da Turquia. A região retira o seu nome das montanhas que atravessam a Bulgária até à Sérvia. O termo “Balcãs” deriva da palavra turca “montanhas”.
- Bolchevique — Palavra que significa “maioria” em russo. Serviu pura designar o Partido Operário Social-Democrata Russo, liderado por Lenine, Outra facção do mesmo partido era conhecida por menchevique (“minoria”).
- Armistício — O fim efectivo de uma guerra; momento em que as forças inimigas estabelecem um acordo para terminar um conflito militar.
- Flandres — Vlaanderen, em holandês, ou Flandres, em francês, é uma região de 13 500 km2 localizada no Norte da Bélgica.
- Sociedade das Nações — Mais conhecida por League of Nations, foi um organismo internacional fundado com intenção de reduzir os armamentos, resolver disputas territoriais entre as nações e impedir futuros confrontos militares como os que se verificaram entre 1914 e 1918. Com sede em Genebra, Suíça, seria dissolvida em 1946 e a sua missão transferida para a Organização das Nações Unidas, entretanto constituída para a substituir.

novembro 26, 2009

A Revolução Liberal portuguesa



Condicionalismos da revolução

Em 1806 Napoleão decretou o Bloqueio Continental, ao qual Portugal recusou aderir. Face a esta recusa, os exércitos napoleónicos, comandados pelo general Junot, invadiram o nosso país em 1807. Perante esta invasão, o rei D. João Vl e a Corte embarcaram para o Brasil, delegando poderes num governo de regência, que foi destituído por Junot, assumindo este o poder.
Em 1808, as tropas inglesas desembarcaram em Portugal, e, juntamente com o exército português, derrotaram os invasores franceses, que foram obrigados a retirar-se.
Em 1809 e 1810, o nosso país é de novo invadido por tropas francesa sob o comando de Soult e Massena, respectivamente, sendo de novo derrotadas pelo exército anglo-português comandado pelo general Beresford.
Os resultados das invasões Francesas foram desastrosos para Portugal: enorme perda de vidas humanas, a agricultura e a indústria arruinadas, roubos e destruições sem conta.
Apesar da derrota das tropas francesas, o rei e a Corte permaneceram no Brasil e o governo do país ficou entregue a uma regência, que assegurava, teoricamente, a administração do país. Na prática, eram os ingleses que governavam e o marechal Beresford era a principal autoridade do reino.
Quanto à economia portuguesa, já foi referido que a agricultura e a indústria se encontravam arruinadas também o comércio atravessava uma crise, devido aos seguintes factores:
• Abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional, em 1808;
• Assinatura de um Tratado de Comércio com a Inglaterra, em 1810.
• A burguesia mercantil portuguesa, que, até aqui, tivera o monopólio do comércio com o Brasil, ficava assim muito prejudicada.
O descontentamento era geral e o regime absolutista mostrava-se incapaz de resolver a situação.

O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO DE 1820


Face ao desagrado geral, manifestado sobretudo pela burguesia e por certos sectores do exército, eclodiu no Porto, em 24 de Agosto de 1820, uma revolução, com o objectivo de pôr fim à monarquia absoluta e instaurar a Monarquia Constitucional. O movimento revolucionário foi executado por uma associação secreta que reunia burgueses e militares, o Sinédrio, da qual fazia parte, entre outros, o jurista Manuel Fernandes Tomás. Do Porto a revolta alastrou-se a Lisboa, onde se constituiu uma Junta Provisória para governar o país.

AS CORTES CONSTITUINTES E A CONSTITUIÇÃO DE 1822


Em Dezembro de 1820, realizaram-se as eleições para as Cortes Constituintes, nas quais foram eleitores os cidadãos do sexo masculino que soubessem ler e escrever. A principal função destas Cortes era a elaboração de uma Constituição, mas, para além disso, foram tomadas outras medidas:
Extinção da inquisição;
Abolição de certos direitos senhoriais;
Transformação dos bens da Coroa em bens nacionais;
Proclamação da liberdade de imprensa.
Em 1822, as Cortes apresentaram ao país a primeira Constituição portuguesa, na qual estavam consagrados os seguintes princípios:
• Soberania da Nação, através do voto popular para a eleição dos deputados;
• Divisão tripartida dos poderes (legislativo, executivo e judicial);
• Igualdade dos cidadãos perante a lei;
• Liberdades fundamentais dos cidadãos.
Com a entrada em vigor da Constituição de 1822, abolia-se a sociedade de ordens e o absolutismo e instaurava-se a Monarquia Constitucional.

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

   As ideias liberais difundiram-se na América, originando a independência de algumas colónias europeias. No Brasil, já em 1789 tinha acontecido uma tentativa falhada de independência, em Minas Gerais.
   Depois de ter adquirido algumas regalias com a presença de D. João Vl, tendo mesmo chegado à categoria de reino, o Brasil viu a sua autonomia ser limitada pela acção das Cortes Constituintes, que tomaram medidas no sentido de subordinar o Brasil económica, politica e militarmente a Portugal.
   D. João Vl havia regressado a Portugal em 1821 e deixara no Brasil o seu filho mais velho e herdeiro do trono, D. Pedro; perante a insistência das Cortes para que D. Pedro regressasse a Portugal, o Brasil declarou a independência em 7 de Setembro de 1822, tendo D. Pedro sido aclamado imperador do novo país.

A REACÇÃO ABSOLUTISTA: A GUERRA CIVIL


   Com a implantação do liberalismo no nosso país, o clero e a nobreza tinham perdido privilégios importantes e começaram a conspirar contra o novo regime. Para tal, contavam com o apoio de D. Miguel, filho de D. João Vl, que chefiou várias tentativas de restauração do absolutismo, a Vila-Francada, em 1823, e a Abrilada, em 1824.
Entretanto, em 1826, deu-se a morte de D. João Vl e a aclamação de D. Pedro como rei de Portugal, com o nome de D. Pedro IV; como era também imperador do Brasil, abdicou a favor de sua filha, D. Maria da Glória (Futura D. Maria II). Como esta tinha apenas 7 anos, seu tio D. Miguel ficava com a regência do reino, com a condição de casar com ela mais tarde. Para apaziguar os adversários da Constituição, D. Pedro concedeu aos portugueses a Carta Constitucional, em1826, que substituía a Constituição de 1822. De acordo com esta Carta, o rei possuía o direito de veto absoluto sobre as leis da Cortes, possuindo assim, para além do poder executivo, o poder moderador. A Carta devolvia ainda ao clero e à nobreza alguns dos seus privilégios.
Desde logo se formaram duas facções entre os liberais: os partidários da Constituição de 1822 (vintistas) e os partidários da Carta Constitucional (Cartistas).
Ao assumir o poder, D. Miguel restaurou o absolutismo e instaurou um regime de terror, com perseguições e execuções de muitos liberais.

Para resistir à opressão absolutista, os liberais refugiam-se nos Açores, onde organizaram um governo de regência. Entretanto, D. Pedro, disposto a acabar com os abusos do seu irmão e a defender o direito de sua filha ao trono de Portugal, abdicou da Coroa brasileira e juntou-se aos resistentes da ilha Terceira. Em 1832, um exército chefiado por D. Pedro desembarcou no Mindelo e dirigiu-se para o Porto, onde foi acolhido pela população.
As tropas absolutistas cercaram a cidade durante vários meses, mas, entretanto, outras movimentações de tropas liberais derrotaram os partidários de D. Miguel, que se viu assim obrigado a render-se. A paz foi assinada em Évora Monte e D. Miguel renunciou ao trono, retirando-se para o exílio. D. Pedro restaurou definitivamente a Carta Constitucional e o liberalismo em Portugal.


- Liberalismo — Doutrina que, politicamente, defende a liberdade, a igualdade, os direitas do Homem e a soberania do povo.
- Carta Constitucional — O mesmo que Constituição. No entanto, a Constituição é elaborada por deputados eleitos e a Carta é elaborada por um grupo reduzido de pessoas e depois outorgada pelo rei.
- Vintismo - Nome dado ao regime instaurado em Portugal pela revolução liberal de 24 de Agosto de 1820 e da Constituição de1822.

O TRIUNFO DA MONARQUIA CONSTITUCIONAL E DAS INSTITUIÇÕES LIBERAIS

Para o triunfo das instituições liberais contribuíram decisivamente as reformas de Mouzinho da Silveira, entre 1832 e 1834, das quais se destacam:
Abolição parcial dos morgadios;
- Reforma das sisas;
- Supressão das dízimas;
- Nacionalização dos bens da Coroa;
- Abolição dos forais;
- Supressão das portagens e de outros entraves à circulação interna de mercadorias;
- Reforma da divisão administrativa do território.
As reformas de Mouzinho da Silveira destruíram a velha ordem senhorial do Antigo Regime e lançaram as bases da nova sociedade burguesa.

O MUNDO INDUSTRIALIZADO - A EXPANSÃO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


A hegemonia inglesa e as novas potências industrializadas


Até finais do século XIX, a Inglaterra manteve o primeiro lugar entre os países industrializados devido ao desenvolvimento dos meios de transporte, particularmente dos caminhos-de-ferro, ao avanço tecnológico e ao dinamismo do sector metalúrgico. A Inglaterra conseguiu, assim, incrementar o seu comércio interno e externo, assegurando um abastecimento regular dos centros comerciais e urbanos; exportava para os países europeus, para a Ásia, para a África e para os novos estados do continente americano, investindo também no estrangeiro os enormes lucros da sua industrialização.
A partir de meados do século XIX, a industrialização alargou-se a outros países da Europa, América e Ásia:
- A Bélgica apostou na exploração mineira e na indústria metalúrgica, com o apoio do Estado e da Banca;
- A França iniciou o seu processo de industrialização por volta de 1830, investindo na construção de caminhos-de-ferro e desenvolvendo os sectores metalúrgicos e da exploração mineira;
- A Alemanha beneficiou de extraordinários recursos naturais e rapidamente desenvolveu a indústria pesada e a indústria química, ultrapassando, a partir da década de 1880, os níveis de produção da Inglaterra;
- Os Estados Unidos da América, beneficiando do imenso território rico em matérias-primas e de numerosa mão-de-obra, iniciaram a sua industrialização a partir de 1840. A construção de uma vasta rede de caminhos-de-ferro, que ligava todo o território, possibilitou a formação de um amplo mercado nacional, que estimulou a produção industrial. No início do século XX, a produção atingiu níveis elevadíssimos, ultrapassando os da Inglaterra e da Alemanha.
- O Japão iniciou o seu desenvolvimento industrial a partir do último quartel do século XIX. Foram utilizados meios técnicos e financeiros estrangeiros e o progresso industrial fez-se sentir através da criação de indústrias transformadoras, de uma rede de caminhos-de-ferro e uma frota comercial. No início do século XX, tornou-se uma das principais potências industriais.


A REVOLUÇÃO DOS TRANSPORTES: FORMAÇÃO DOS MERCADOS NACIONAIS E A ACELERAÇÃO DAS TROCAS INTERCONTINENTAIS

A revolução dos transportes iniciou-se, com a aplicação da máquina a vapor à locomotiva e ao barco, o que aconteceu pela primeira vez no século XIX. Nos transportes terrestres, o comboio constituiu a mais revolucionária invenção, tendo sido inicialmente utilizado nas minas e poste-riormente aplicado como meio de transporte de pessoas e mercadorias. A rede europeia de caminhos-de-ferro atingiu, em 1870, cerca de 150 mil quilómetros e os continentes americano e asiático foram atravessados por linhas transcontinentais.
Nos transportes marítimos, só a partir de meados do século XIX a navegação a vapor se impôs definitivamente à navegação à vela, devido à construção de grandes e rápidos veleiros.
O aumento da produção, o crescimento populacional e a revolução dos transportes provocaram a formação dos mercados nacionais.
Paralelamente, foi possível estabelecer contactos de uma forma mais rápida e acessível entre os vários países e continentes, fomentando-se assim as trocas intercontinentais. Era agora possível aos países industrializados fazer chegar os seus produtos a todas as partes do Mundo.

AS NOVAS FONTES DE ENERGIA E AS NOVAS INDÚSTRIAS


No último quartel do século XIX desenvolveram-se duas novas fontes de energia, a electricidade e o petróleo, que acabaram por substituir a força do vapor. A aplicação destas duas novas fontes de energia à indústria e aos transportes fez-se através do motor eléctrico e do motor de explosão, possibilitando um aumento da produção e maior rapidez nos transportes, desencadeando assim uma segunda revolução industrial.
Surgiram novas indústrias, como a indústria química e a indústria da electricidade, e desenvolveu-se a indústria metalúrgica. A indústria química tornou possível o fabrico de borracha, fibras sintéticas, explosivos, fertilizantes, perfumes, medicamentos e insecticidas. No domínio da electricidade, são de salientar a invenção e aperfeiçoamento do telégrafo por Morse, do telefone, da telefonia sem fios, da lâmpada, do gerador e do dínamo, que possibilitariam a revolução dos meios de comunicação e a iluminação pública eléctrica. Na indústria metalúrgica, desenvolveu-se a indústria pesada, com a produção do aço, utilizado na Construção civil e na maquinaria. Por outro lado, com a invenção do motor de explosão preparava-se uma segunda revolução dos transportes, com o surgimento dos primeiros automóveis, seguindo-se, alguns anos depois, os primeiros aviões. Com os novos meios de transporte, ganhava importância  um novo combustível, o petróleo.

Como consequência de todas estas inovações, a vida quotidiana alterou-se profundamente, criando novos hábitos e novas necessidades. As máquinas e os aparelhos invadiram a vida das pessoas; o elevador, a bicicleta, o frigorifico, o aspirador, o fogão a gás, a máquina de escrever, a máquina de costura, o gramofone, a máquina fotográfica e o cinematógrafo.